Pouco? Não pareceu, pois passei o dia todo elétrico, respondendo e-mails, falando pelos cotovelos, me intrometendo em todas discussões possíveis, comendo pouco e tomando muito café. Sei que estou entrando numa crise de mania, o oposto da depressão.
Apesar do bem-estar momentâneo, aprendi, depois de muito tempo, que esse estado de euforia não é bom.
Tomo decisões precipitadas, compro coisas das quais não preciso, ajo por impulso, tenho meus impulsos sexuais elevados a enésima potência, dirijo perigosamente e topo qualquer desafio.
Tudo isso num estado de consciência estranho, percebo o que acontece, mas não consigo evitar, como se eu fosse um espectador de minhas próprias ações.
Em casos extremos a euforia vai aumentando até a um colapso. Agressividade gratuita acontece nessa fase (já ocorreu comigo 2 vezes, na última foram necessários 4 para-médicos, injeções e ataduras para me amarrar em uma maca). Alucinações também são frequentes para quem ultrapassa esse limite. E também tentativas de suicídio. Esses colapsos são os conhecidos surtos psicóticos.
Mas, por que isso ocorre?
Em qualquer pessoa o estado de humor é determinado por reações quimícas ocasionadas no cérebro. Existem substâncias que, em maior ou menor quantidade, provocam euforia, sensação de prazer ou tristeza (em outro post falarei sobre algumas substância e reações em especial).

Já um bipolar, como eu, tem um completo desiquilíbirio na produção dessas substâncias. Pode responder de forma exagerada à estímulos, (como chorar horas a fio por ser chamado de feio) ou ter mudanças bruscas e extremas, alheias a qualquer motivo (como, no meio de uma festa, começar uma crise de choro).
Minha bipolaridade é de ciclos rápidos (mais de 4 mudanças em um espaço de 1 ano), e o medicamento mais comum para o transtorno, o Carbonato de Lítio não é eficaz para casos como o meu. Melhor assim, pois pessoas que usam Lítio costumeiramente aumentam de peso com rapidez absurda.
Sendo assim, no meu caso, resta o controle com antidepressivos e ansiolíticos, de ação rápida, combinados. Funciona, basicamente, assim: tomo um medicamento (Donarein ou Amato) para dormir e um estimulante (Bupropiona) para acordar.
Nas fases depressivas, tudo ajuda, amigos, esportes, hobbies, trabalho, mas dispersa na hora dos medicamentos. Afinal, quando estou equilibrado, a última coisa em que penso é a medicação. E para desencadear uma nova crise depressiva (que é mais frequente comigo) é só uma questão de tempo.
Esses ciclos são extramentes desgastantes, não só para portadores do distúrbio, mas também para familiares, amigos e colegas. É difícil compreender tanta oscilação sem motivo aparente e, com o preconceito inevitável, a convivência é insuportável.
A terapia ajuda a manter os pés no chão, e não largar os remédios, afinal esse problema é crônico e não há cura. No máximo, controle.
Trilha sonora do post: Mika, mais apropriado impossível, "running around again, running from running..."
P. S.: A Marilyn, lá em cima, é porque ela deve ser a celebridade bipolar mais famosa. E eu acho a ilustração o máximo. Já a Britney é um exemplo de colapso (surto) depois de euforia.