De saco cheio com a terapia, drogas que não surtem efeitos (positivos) e pessoas que dizem "você tem que se ajudar!", resolvi registrar os altos e baixos da minha mente doentia para ver o que acontece. Identifica-se? Concorda? Acha frescura? Comente.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

EM (APARENTE) ESTADO DE GRAÇA

                                                                                          Noite passada eu dormi por aproximadamente 3 horas e meia.
    Pouco? Não pareceu, pois passei o dia todo elétrico, respondendo e-mails, falando pelos cotovelos, me intrometendo em todas discussões possíveis, comendo pouco e tomando muito café. Sei que estou entrando numa crise de mania, o oposto da depressão.
   Apesar do bem-estar momentâneo, aprendi, depois de muito tempo, que esse estado de euforia não é bom.
    Tomo decisões precipitadas, compro coisas das quais não preciso, ajo por impulso, tenho meus impulsos sexuais elevados a enésima potência, dirijo perigosamente e topo qualquer desafio.
    Tudo isso num estado de consciência estranho, percebo o que acontece, mas não consigo evitar, como se eu fosse um espectador de minhas próprias ações.
    Em casos extremos a euforia vai aumentando até a um colapso. Agressividade gratuita acontece nessa fase (já ocorreu comigo 2 vezes, na última foram necessários 4 para-médicos, injeções e ataduras para me amarrar em uma maca). Alucinações também são frequentes para quem ultrapassa esse limite. E também tentativas de suicídio. Esses colapsos são os conhecidos surtos psicóticos.
     Mas, por que isso ocorre?
   Em qualquer pessoa o estado de humor é determinado por reações quimícas ocasionadas no cérebro. Existem substâncias que, em maior ou menor quantidade, provocam euforia, sensação de prazer ou tristeza (em outro post falarei sobre algumas substância e reações em especial).
Uma pessoa normal reage a estímulos externos na produção dessas substâncias, podendo ficar mais alegre com uma boa notícia, por exemplo, ou uma música agradável, ou ficar mais triste ao presenciar um acidente.
Já um bipolar, como eu, tem um completo desiquilíbirio na produção dessas substâncias. Pode responder de forma exagerada à estímulos, (como chorar horas a fio por ser chamado de feio) ou ter mudanças bruscas e extremas, alheias a qualquer motivo (como, no meio de uma festa, começar uma crise de choro).
    Minha bipolaridade é de ciclos rápidos (mais de 4 mudanças em um espaço de 1 ano), e o medicamento mais comum para o transtorno, o Carbonato de Lítio não é eficaz para casos como o meu. Melhor assim, pois pessoas que usam Lítio costumeiramente aumentam de peso com rapidez absurda.
Sendo assim, no meu caso, resta o controle com antidepressivos e ansiolíticos, de ação rápida, combinados. Funciona, basicamente, assim: tomo um medicamento (Donarein ou Amato) para dormir e um estimulante (Bupropiona) para acordar.
Nas fases depressivas, tudo ajuda,  amigos, esportes, hobbies, trabalho, mas dispersa na hora dos medicamentos. Afinal, quando estou equilibrado, a última coisa em que penso é a medicação. E para desencadear uma nova crise depressiva (que é mais frequente comigo) é só uma questão de tempo.

    Esses ciclos são extramentes desgastantes, não só para portadores do distúrbio, mas também para familiares, amigos e colegas. É difícil compreender tanta oscilação sem motivo aparente e, com o preconceito inevitável, a convivência é insuportável.
    A terapia ajuda a manter os pés no chão, e não largar os remédios, afinal esse problema é crônico e não há cura. No máximo, controle.


Trilha sonora do post: Mika, mais apropriado impossível, "running around again, running from running..."


P. S.: A Marilyn, lá em cima, é porque ela deve ser a celebridade bipolar mais famosa. E eu acho a ilustração o máximo. Já a Britney é um exemplo de colapso (surto) depois de euforia.